Os pioneiros e o reteté
Por Gutierres Fernandes Siqueira
Sempre que tenho a oportunidade de dialogar com pastores veteranos das Assembleias de Deus, especialmente aqueles que tiveram a experiência da conversão antes da década de 1970, é quase unânime a classificação do chamado "reteté" como "meninice".
Na década passada conversei bastante com o pastor Miguel Saraiva, ordenado ao ministério nos anos de 1960 no interior do Maranhão, e falecido aos 97 anos a poucos meses atrás. O reverendo dizia pra mim que a pregação não demandava gritaria. Várias vezes pude escutá-lo pregar, mas sempre sereno. A única vez que o ouvi falar em línguas ao microfone não durou mais do que alguns segundos. Ele levava 1 Coríntios 14 muito a sério. Miguel teve como professor outro pioneiro: Estevam Ângelo de Souza.
Hoje os histéricos querem transformar o culto em um hospício e dizem ainda que seguem os passos dos pioneiros. Na verdade, esses meninos na fé e no entendimento são frutos de dois congressos modistas: os GMUH e a ADHONEP. Ambos os eventos dessas entidades em muito jogaram laranjas podres na cesta do pentecostalismo brasileiro. Se tivessem aprendido com Gunnar Vingren, Estevam Ângelo de Souza, Alcebíades Pereira de Vasconcelos, Donald Gee, Orlando Boyer etc. jamais agiriam com palhaçada, indecência e desordem.
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NEM SEMPRE É POSSÍVEL DISTINGUIR O VERDADEIRO E O FALSO MINISTÉRIO
João Calvino escreveu:
Os genuínos servos de Deus nem sempre se distinguem devidamente dos falsos obreiros, porque os pontos bons e maus são encobertos pelo manto da noite; todavia, essa noite não durará para sempre. Porque a ambição é cega, a generosidade humana é cega, o aplauso do mundo é cego, porém Deus um dia dissipará essas trevas, a seu próprio tempo.
Como não concordar com o reformador francês? Nem sempre é possível discernir o verdadeiro do falso, o joio do trigo, o homem de Deus do homem orgulhoso. Muita coisa hoje é oculta, nublada, escondida, mas o Dia do Senhor virá e toda obra passará pelo teste do fogo. Vamos pensar sempre: O meu edifício sobreviverá como sólida edificação ou virará pó? Estou construindo uma obra para reflexo na eternidade ou para mera satisfação da minha vaidade? Estou vivendo para a glória de Deus ou para o louvor dos homens?
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O QUE SIGNIFICA SER "CHEIO DO ESPÍRITO"?
Biblicamente, especialmente nas epístolas paulinas, ser cheio do Espírito é ter o coração transformado e moldado ao caráter de Cristo. Billy Graham dizia que ser cheio do Espírito Santo não é "uma questão de haver mais dEle, como se a sua obra em nós fosse quantitativa. Não se trata de quanto do Espírito nós temos, mas quanto o Espírito tem de nós... À medida que entendemos cada vez mais a liderança de Cristo, nós nos entregamos e cedemos cada vez mais a Ele. Assim, ao buscar a plenitude do Espírito, recebemos e desfrutamos do seu preenchimento e da sua plenitude, cada vez mais."
Agora, a plenitude do Espírito também envolve a capacitação sobrenatural para testemunhar de Cristo neste mundo, como vemos nos escritos de Lucas. É uma capacitação que não vem do nosso próprio esforço, mas é recebido como um carisma do Espírito. Não é só a salvação e a santificação que recebemos pela graça, mas a própria capacidade de realizar grandes obras para o Reino. Deus nos dá dons, sejam visíveis ou não, mas o Senhor sempre capacita a Sua Igreja.
Portanto, ser cheio do Espírito é o caráter moldado e o poder do alto para testemunho eficaz. Uma coisa não anda saudavelmente sem a outra. Não se mede o enchimento do Espírito, especialmente pelo barulho ou movimentos corporais, pois quem assim pensa está reduzindo terrivelmente a obra do Espírito.
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HOUVE AVIVAMENTO EM AZUSA?
Recentemente eu estava numa livraria evangélica quando me deparei com mais um novo livro estrangeiro sobre a história dos avivamentos. Pensei em comprá-lo, mas antes conferi o índice. O autor contaria história de diversos avivamentos em todo o mundo, mas simplesmente ignorou o Avivamento da Rua Azusa. Seja ignorância ou preconceito antipentecostal, aquele teólogo falhou ao jogar fora um dos maiores avivamentos da Igreja moderna. Em Azusa tivemos todos os elementos de um verdadeiro avivamento: arrependimento de pecados, inúmeras conversões, impulso missionário, paixão pelas Escrituras e transformação social, pois naquela casa de Los Angeles não havia distinção de homens em raça ou classe social. E também houve exageros emocionais, algo igualmente comum em todos os grandes avivamentos. Ainda que Azusa seja esquecida pelos historiadores cristãos, vejam vocês, a sua influência continua e continuará a marcar a Igreja Cristã contemporânea.
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A ORAÇÃO MOVE O BRAÇO DE DEUS?
Deus é soberano, portanto não manipulável. Em Isaías 38 lemos como a oração do rei Ezequias transformou o monarca em um homem mais quebrantado. A oração não guia a Deus. É Ele quem nos guia por meio da oração. A oração não transforma o coração de Deus. É Deus quem transforma nosso coração por meio da oração. Ou como disse Søren Kierkegaard (1813 —1855): "A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora."
Fonte: http://www.teologiapentecostal.com/2016/02/o-pioneiros-e-o-retete.html