Espírito Santo
E disse Jesus: Se me amardes, guardereis os meus mandamentos. E Eu rogartei ao Pai e Ele vos dará outro consolador. para que fique convosco para sempre. A saber , o Espírito da Verdade , O qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque Ele habita convosco e estará em vós.
Não vos deixareis órfãos; voltarei para vós. Ainda um e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim e Eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama.
E aquele que me ama será amado de meu Pai. e eu o amarei e manifestarei a ele.
Disse-Juda: Senhor, onde vai que hás de manifestar a nós e não ao mundo?
Jesus respondeu: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, viremos para ele, e faremos nele morada.( Quem me ama não guarda as minhas palavras ).
Ora a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai. que me enviou. Tenho-vos disto isto estando convosco. Mas o consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou : não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Ouviste que eu vos disse: Vou e venho para vós. Se me amasséis, certamente exaltaríes por ter dito: Vou para o Pai; porque o Pai é maior do que eu. Eu digo-lhes agora antes que aconteça , para que, quando acontecer vós acrediteis. Jo.14:12ao28
A promessa da efusão do Espírito
E há de ser que depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carnem e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também sobre o servos e sobre as servas naquele dia derramarei o meu Espírito. E mostrarei o prodígios no céu, e na terra., sangue e fogo, e coluna de fumo.
O sol se converterá em trevas, e a lua em sangueantes que o grande e terrível dia do senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo porque no monte de Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como o Senhor tem dito, e nos restante que o Senhor chamar. Je.2:28-32.
E respondeu e me falou , dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. Zc. 4:6.
E eu em verdade, vos batizo co água para o arrependimento: mas aquele que vem após mim e mais poderoso do que eu, cujas alparcas não sou digno de levar: ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo. Mt. 3:11.
Eu , em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo. Mc. 1:8. E eu vós digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vosá; Porque qualquer que pede recebe: e quem busca acha; e quem bate abrir-selhe-á.
Qual o pai dentre vós que, se o filho pedir pão, lhe dará uma pedra? ou se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará Pai celestial o Espírito Santo àquele que lhe pedirem. Lc. 11:9ao13.
No último dia, o grande dia da festa pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios dágua viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito Santo qur haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado. Jo. 7:37ao39. Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele testicará de mim e vos também testificareis pois estivestes comigo desde o princípio.Naquele dia pedireis em meu nome, e vos digo que eu rogarei por vós ao Pai. Jo. 15:26-27. Mas, quando vier aquele Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anuviará o que há de vir.
Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo de anunciar. Tudo que meu Pai tem é meu, por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Jo. 16:13ao15
Espírito Santo é o termo usado para traduzir o termo hebraico Ruach HaKodesh, utilizado na Bíblia hebraica (Velho Testamento) para se referir à presença de Deus na forma experimentada por um ser humano. Nos Cristianismo o Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Entre os cristãos, o Espírito Santo também é chamado de CONSOLADOR ( do grego Parácleto), que significa a alguém enviado para ficar ao lado de outrem (João 14.16).
Agostinho e a Santíssima Trindade
Estimulados pelos escritos de Karl Barth, o teólogo
que mais explorou o mistério trinitário no século xx,1 várias
obras importantes sobre a doutrina da Trindade foram escritas. Nas duas décadas
finais do século xx Karl Rahner, Jürgen Moltmann, Leonardo Boff, Wolfhart
Pannenberg, Colin Gunton e Millard Erickson, buscaram refletir e reaplicar a doutrina
trinitária, produzindo um grande número de estudos dogmáticos, bíblicos e
históricos.2 O alvo
deste ensaio é expor a compreensão da doutrina trinitariana como formulada por
Agostinho de Hipona, que produziu uma obra seminal sobre este tema, A Trindade, com a qual todos
estes escritores interagem.
Agostinho e A Trindade
Foi Agostinho quem deu à tradição ocidental a sua
expressão madura e final acerca da Trindade. Não obstante ser Agostinho mais
conhecido através de obras como as Confissões (sua
autobiografia, publicada em 400) ou A Cidade de Deus (publicada em
426), provavelmente sua obra prima é o tratado conhecido por A Trindade, que ele demorou
dezesseis anos para redigir – entre 400 e 416. Esta obra está dividida em duas
partes, bem distintas. A primeira, com uma ênfase bíblica, vai do livro I ao
VII. É a seção teológica propriamente dita. A segunda parte, do livro VIII ao
XV apresenta um caráter especulativo psicológico e filosófico, no gênero
analógico. Conforme suas palavras: “Sendo ainda muito jovem, iniciei a
elaboração destes meus livros sobre a Trindade, que é o Deus sumo e verdadeiro.
Agora, entrado em anos, trago-os a público”.3 De
fato, A Trindade é a obra de sua maturidade.
Agostinho pressupôs como uma verdade bíblica que
existe um só Deus que é Trindade, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são
simultaneamente distintos e co-essenciais, numericamente um quanto à
substância:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo, isto é, a
própria Trindade, una e suprema realidade, é a única Coisa a ser fruída [una quaedam summa
res], bem comum de todos. Se é que pode ser chamada Coisa e não, de
preferência, a causa de todas as coisas – se também puder ser chamada causa.
Não é fácil encontrar um nome que possa convir a tanta grandeza e servir para
denominar de maneira adequada a Trindade. A não ser que se diga que é um só
Deus, de quem, por quem e para quem existem todas as coisas (Rm 11,36). Assim,
o Pai, o Filho e o Espírito Santo são, cada um deles, Deus. E os três são um só
Deus. Para si próprio, cada um deles é substância completa e, os três juntos,
uma só substância. O Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo. O Filho não é o
Pai, nem o Espírito Santo. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. O Pai é
só Pai, o Filho unicamente Filho, e o Espírito Santo unicamente Espírito Santo.
Os três possuem a mesma eternidade, a mesma imutabilidade, a mesma majestade, o
mesmo poder. No Pai está a unidade, no Filho a igualdade e no Espírito Santo a
harmonia entre a unidade e a igualdade. Esses três atributos todos são um só,
por causa do Pai, todos são iguais por causa do Filho e todos são conexos por
causa do Espírito Santo.4
Em nenhum lugar Agostinho tentou demonstrar
biblicamente estas afirmações. “Trata-se de um dado da revelação que, para ele,
as Escrituras proclamam quase a cada página, e que a ‘fé católica’ (fides catholica) transmite aos
fiéis”.5 Em seu entendimento, Deus é
incompreensível, mas não incognoscível, havendo duas vias de conhecimento de
Deus: a via da eliminação, ou negação (apofática), que consiste em
suprimir de Deus todos os defeitos das criaturas, e a eminência (catafática), que consiste em
atribuir a Deus, elevando-as ao infinito, todas as perfeições: “Todo aquele que
refletir sobre Deus desse modo, embora não chegue a conhecer plenamente o que
ele é, contudo – enquanto pode – como homem piedoso, evitará pensar dele, o que
ele não é”.6
Como delineia J. N. D. Kelly, seu “imenso esforço
teológico é uma tentativa de compreensão, sendo esse o exemplo supremo de seu
princípio de que a fé deve preceder a compreensão (praecedit fides,
sequitur intellectus)”.
A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o
profeta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7.9). Doutro lado, o
entendimento prossegue buscando aquele que a fé encontrou, pois, Deus olha do céu
para os filhos dos homens, como é cantado no salmo sagrado:para ver se alguém
que tenha inteligência e busque a Deus (Sl 13.2). Logo, é para isto que o
homem deve ser inteligente: para buscar a Deus.7
Portanto, nesta obra, Agostinho, pressupondo a
veracidade do testemunho bíblico sobre o ensino acerca do Deus trino e
baseando-se nas decisões conciliares estabelecidas em Nicéia e Constantinopla,
construiu o primeiro tratado verdadeiramente sistemático da doutrina da
Trindade.
São contínuas as orações cheias de amor e confiança
que Agostinho dirige a Deus, no correr de sua tarefa de investigar o mistério
da Trindade. E são um testemunho da dependência e ardente súplica, tão
características da oração agostiniana. Constata-se assim estar toda obra
teológica de Agostinho elaborada em clima de oração. Nele está unido a sapientia (“a sabedoria
refere-se à contemplação”) e ascientia (“a ciência diz
respeito à ação”), o esforço na busca de sabedoria espiritual.8
1. A Santíssima Trindade
Seguiremos aqui os pontos básicos do resumo que J.
N. D. Kelly fez da exposição da doutrina trinitária em Agostinho.9 Esta é
inteiramente fundamentada nas Escrituras, porém, em contraste com a tradição
oriental, que fez da pessoa do Pai o seu ponto de partida, Agostinho principia
com a natureza divina em si mesma. É esta simples e imutável natureza ou
essência que é Trindade.10 A
unidade da Trindade é assim claramente asseverada, eliminando-se rigorosamente
“o arianismo e o subordinacionismo da sua doutrina da Trindade”.11 Portanto,
tudo o que é afirmado de Deus é afirmado igualmente de cada uma das três
pessoas da deidade: “O Deus único e verdadeiro não é somente o Pai, mas o Pai,
o Filho e o Espírito Santo”.12
Como Kelly nota, diversas consequências se seguem
desta ênfase na unidade da natureza divina. Primeiro, as pessoas da Trindade
não são três indivíduos separados, antes “cada uma das pessoas divinas é
idêntica às demais ou à própria substância divina”, e deve-se afirmar “que cada
uma das pessoas habita nas outras ou é inerente às outras”. Como Agostinho
escreveu:
Creia o homem no Pai, no Filho e no Espírito Santo,
como um só Deus, grande, onipotente, bom, justo, misericordioso, criador de
todas as coisas visíveis e invisíveis, e tudo o mais que dele se possa dizer
digna e verdadeiramente, conforme a capacidade da inteligência humana. E quando
ouvir dizer que o Pai é um só Deus, não separe o Filho e o Espírito Santo,
porque com ele são um só Deus. Quando ouvir dizer que o Filho é um só Deus é
mister entender assim, mas sem separá-lo do Pai e do Espírito Santo. E de tal
modo diga que existe uma só essência, e não considere a essência de um ser
maior ou melhor do que a do outro e diferente em algum aspecto. Contudo, não
pense que o Pai é o Filho ou Espírito Santo ou qualquer coisa que uma pessoa em
separado diga relação às outras, como por exemplo, o termo ‘Verbo’ aplica-se
somente ao Filho, e Dom afirma-se somente a respeito do Espírito Santo.13
Segundo, “tudo o que pertence à natureza divina
como tal” deve, numa linguagem exata, “ser expresso no singular, já que esta
natureza é única”. Portanto, embora cada uma das três pessoas seja incriada,
infinita, onipotente, eterna, não há três incriados, infinitos, onipotentes e
eternos, mas apenas um.
Os diferentes nomes aplicados a cada uma das três
pessoas na Trindade traduzem relação recíproca, tais como: Pai e Filho, e o Dom
de ambos, o Espírito Santo. Com efeito, não se pode dizer que o Pai é a
Trindade, ou que o Filho é a Trindade, nem o Dom ser a Trindade. O que é dito,
porém, de cada um dos três em relação a si mesmo, é dito não no plural, mas no
singular, pois referente a uma única realidade: a própria Trindade.14
Terceiro, “a Trindade possui uma única e
indivisível ação e uma única vontade”. Em outras palavras, sua operação é
“inseparável”,15 isto é,
em relação à ordem contingente as três pessoas atuam como “um único princípio (unum principium)”16 e como
as pessoas são inseparáveis, “assim também operam inseparavelmente”.17 Como
exemplo disto, de acordo com Kelly, Agostinho argumenta que as teofanias,
manifestações de Deus registradas no Antigo Testamento, não devem ser
consideradas como manifestações exclusivamente do Filho. Algumas vezes as
teofanias podem ser atribuídas ao Filho, ou ao Espírito Santo, algumas vezes ao
Pai, outras vezes a todas as três pessoas da deidade. Outras vezes ainda é
impossível decidir a qual das três pessoas atribui-las.18
A dificuldade que esta teoria sugere é que ela
parece ignorar os diversos papéis das três pessoas. A isto Agostinho responde
que, embora seja verdade que o Filho, embora distinto do Pai, nasceu, sofreu e
ressuscitou, “é igualmente verdade que o Pai cooperou com o Filho” na
realização da encarnação, paixão e ressurreição. Era conveniente para o Filho,
entretanto, “em virtude de sua relação com o Pai, manifestar-se e fazer-se
visível”.19 Logo,
já que cada uma das pessoas possui a natureza divina de uma maneira particular,
é apropriado “atribuir a cada uma delas, na operação externa da Divindade, o
papel que lhe é próprio em virtude de Sua origem”.20
2. A distinção das pessoas
Segundo Agostinho, a distinção das pessoas se
fundamenta nas “suas relações mútuas dentro da Divindade”. Embora consideradas
enquanto substância divina, as pessoas sejam idênticas, o Pai se distingue
enquanto Pai por gerar o Filho, e o Filho se distingue enquanto Filho por ser
gerado.
Com respeito às relações mútuas na Trindade, se aquele
que gerou é principio do gerado, o Pai é principio em referencia ao Filho,
porque o gerou. Entretanto não é uma investigação de pouca importância inquirir
se o Pai é também principio com relação ao Espírito Santo, pois está
escrito: procede do Pai. Se assim for, é principio não somente do que gera ou faz (o Filho),
mas também da pessoa que ele dá (o Espírito). Isso lançaria uma possível luz
sobre a questão que a muitos preocupa, sobre a possibilidade de dizer-se que o
Espírito Santo também seja Filho, já que sai do Pai, como se lê no Evangelho
(Jo 15.26). Saiu do Pai, sim, mas não como nascido, mas como Dom, e por isso,
não se pode dizer filho, já que não nasceu como o Unigênito e nem foi criado
como nós, que nascemos para a adoção filial pela graça de Deus.21
O Espírito Santo, semelhantemente, distingue-se do
Pai e do Filho enquanto “outorgado” por eles, sendo o “dom comum” (donum) de ambos, “uma
espécie de comunhão de Pai e Filho (quaedam patris et filii communiio), ou, então, o
amor que, juntos, Eles derramam em nossos corações”.22 Surge
então a questão: “o que são, na verdade, os três”? Agostinho reconhece que
tradicionalmente eles são designados como pessoas, mas ele fica descontente com
o termo. Provavelmente a expressão lhe trazia a conotação de indivíduos
separados. Mas ele consente em usar a expressão, por causa da necessidade de
afirmar a distinção dos três contra o modalismo, e com um profundo sentido da
inadequação da linguagem humana.23Sua teoria
positiva, original e muito importante para a história subseqüente da doutrina
da Trindade no ocidente, foi a de que “os três são relações reais ou
subsistentes”. Em outras palavras, toda distinção nas pessoas divinas consiste
numa relação subsistente, mútua, entre elas.
O motivo que levou Agostinho a esta colocação foi o
dilema colocado pelos arianos.24 Estes,
baseando-se no esquema aristotélico das categorias, afirmaram que as distinções
na Divindade, se elas existissem, teriam que “ser classificadas sob a categoria
de substância ou de acaso”.25 Na
categoria do acaso não poderia sê-lo, porque em Deus não há nada acidental; se
o fossem, porém, na categoria da substância, então a conclusão seria que
existem três deuses.
Agostinho nega ambas as alternativas, explicando
que a categoria da relação é uma alternativa possível. Os três, ele passa a
afirmar, são relações tão reais e eternas como o “gerar, ser gerado e proceder
(ou ser outorgado)”, que fundamentam as relações dentro da Divindade.
Não há, pois, senão um bem simples e, consequentemente, senão um bem
imutável – Deus. E este bem criou todos os bens que, não sendo simples, são,
portanto, mutáveis. Digo, precisamente, criou, isto é, fez, e não gerou. É que
o que é gerado de um ser simples é simples como ele e é o mesmo que aquele que
o gerou. A estes dois seres chamamos Pai e Filho e um e outro com o seu Santo
Espírito são um só Deus. A este Espírito do Pai e do Filho se chama nas
Sagradas Escrituras Espírito Santo por uma espécie de apropriação deste nome.
É, porem, distinto do Pai e do Filho, pois não é nem o Pai nem o Filho. Disse
que é distinto mas não é outra coisa, porque também Ele é igualmente
simples, igualmente imutável e co-eterno. E esta Trindade é um só Deus e não
deixa de ser simples por ser Trindade. (...) É por isso que se chama simples a
natureza que nada tem que possa perder; ou é simples a natureza em que aquele que tem se identifica
com aquilo que tem. [Portanto] chama-se simples as perfeições que, por excelência e na verdade,
constituem a natureza divina: porque nelas não é a substância uma coisa e a
qualidade outra coisa. 26
O Pai, o Filho e o Espírito Santo são assim
relações, “no sentido de que tudo aquilo que cada um é, Ele é em relação a um
dEles ou a ambos”.27
3. A processão do Espírito Santo
Agostinho também procurou explicar o que é a
processão do Espírito Santo, ou “em que ela difere da geração do Filho”.28 Ele
considerou como certo que o Espírito Santo é o amor mútuo do Pai e do Filho (communem qua
invicem se diligunt pater et filius caritatem), o amor comum pelo qual o Pai e o
Filho se amam mutuamente.29 Assim,
Agostinho afirma que “o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho, mas somente o
Espírito Santo do Pai e do Filho, igual ao Pai e ao Filho e pertencente à
unidade da Trindade”.30 Desta
maneira, em relação ao Espírito Santo, o Pai e o Filho formam um único
princípio, o que é inevitável, “pois a relação de ambos” para com o Espírito
Santo “é idêntica e onde não há diferença de relação, a operação dEles é
inseparável”. Agostinho, portanto, ensinou a doutrina da dupla processão do
Espírito Santo do Pai e do Filho (filioque).31
Então, de acordo com Agostinho, o Pai é autor da
processão do Espírito Santo porque Ele gerou o Filho, e ao gerá-lo tornou-o
também fonte a partir do qual o Espírito procede e já que tudo o que o Filho
tem, o tem do Pai, do Pai tem também que dEle proceda o Espírito Santo. Daqui,
porém, não se deve concluir, ele nos adverte, que o Espírito Santo tenha duas
fontes ou princípios.32 Pelo
contrário, “a ação do Pai e do Filho” na processão do Espírito “é comum, assim
como é a ação de todas as três pessoas na criação”. Além disso, não obstante a
dupla processão, o Pai permanece “a fonte primordial”, na medida em que é dEle
que deriva a capacidade do Espírito Santo de proceder do Filho.33
Entenda também que, assim como o Pai tem a vida em
si mesmo, para que dele proceda o Espírito Santo, assim deu ao Filho para que
dele também proceda o mesmo Espírito Santo; o qual procedeu de ambos, fora do
tempo. E pelo fato de dizer-se que o Espírito Santo procede do Pai, deve-se
entender que o Filho recebe-o do Pai, e então, o Espírito Santo procede também
do Filho. Pois o que o Filho tem, recebe-o do Pai, e assim recebe do Pai para
que dele proceda, o mesmo Espírito Santo.34
Portanto, o Espírito Santo é algo comum ao Pai e ao
Filho. “O Pai é apenas o Pai do Filho, e o Filho apenas o Filho do Pai; o
Espírito, entretanto, é o Espírito tanto do Pai como do Filho, unindo-os em um
vínculo de amor”. Portanto, o Espírito Santo é o “elo que une, por um lado, o
Pai e o Filho, e, por outro lado, Deus e os cristãos. O Espírito é um dom, dado
por Deus, o qual une os cristãos a Deus e aos demais cristãos. O Espírito Santo
forma os elos de união entre os cristãos, dos quais depende fundamentalmente a
unidade da igreja. A igreja é o ‘templo do Espírito Santo’, e em seu interior o
Espírito Santo habita. O mesmo Espírito que une o Pai e o Filho, tornando-os
um, também une os cristãos em uma só igreja”.35
4. A formulação das “analogias
psicológicas”
De acordo com J. N. D. Kelly, “o uso de analogias
tiradas da estrutura da alma humana”, ainda que afirmada timidamente, é,
provavelmente, “a contribuição mais original de Agostinho à teologia
trinitária”.36 A
função destas analogias não é demonstrar que Deus é Trindade, já afirmada nas
Escrituras, mas aprofundar nosso entendimento do mistério da absoluta unidade e
também da distinção real dos três. No sentido estrito, de acordo com Agostinho,
há vestígios da Trindade em todo o lugar, porque as criaturas, na medida em que
existem, “existem por participar das ideias de Deus; portanto, tudo deve
refletir”, embora de forma tênue, a Trindade que as criou.37
Para buscar a verdadeira imagem da Trindade,
entretanto, o homem deve olhar primeiramente dentro de si, porque as Escrituras
representa Deus dizendo: “Façamos [isto é, os três] o homem à nossa imagem e à nossa semelhança”.
Portanto, mesmo o homem exterior, isto é, o homem considerado em sua natureza
sensível, fornece “uma certa figura da Trindade” (quandam trinitatis
effigiem).38 De
acordo com Kelly, “o processo de percepção, por exemplo, revela três elementos
distintos que são ao mesmo tempo intimamente ligados, dos quais o primeiro, em
certo sentido, gera o segundo, enquanto que o terceiro mantém aos outros dois
unidos”.39 Por
exemplo, o objeto externo (res quam vivemus, a coisa que vemos), a representação
sensível da mente (visio), e a intenção ou ato de focalizar a mente (intentio; voluntas;
intentio voluntatis, a intenção da vontade). Quando o objeto externo é removido temos uma
segunda trindade, que lhe é superior, pois é localizada inteiramente dentro da
mente.40 Neste
sentido, Agostinho fala da impressão da memória (memoria), a imagem interna
da memória (visio interna), e a intenção ou disposição da vontade (voluntas).
Para a imagem real, entretanto, da Trindade,
devemos olhar no homem interior, ou alma. Ao comentar a pergunta do Salmo, “por
que estás triste, ó minha alma? E por que me perturbas?”, ele escreveu:
“Entendemos, então, que temos algo onde se encontra a imagem de Deus, a saber, a
mente, a razão. A mente invocava a luz de Deus e a verdade de Deus. Com ela
entendemos o que é justo e o que é injusto, discernimos o verdadeiro do
falso... Nosso intelecto, por conseguinte, fala a nossa alma”.41
Como Kelly afirma, frequentemente tem sido dito que
a principal analogia trinitária do A Trinitate é a do amante
(amans), do objeto amado (id quod amatur) e do amor que os
une (amor).42 Porém a
discussão de Agostinho desta trindade é bastante curta, e é apenas “uma
transição” para aquela que ele considera sua mais importante analogia, a da
“atividade da mente enquanto dirigida para si mesma ou, melhor ainda, para
Deus”.
Quem poderá compreender a Trindade onipotente? E
quem não fala dela, ainda que não a compreenda? É rara a pessoa que, ao falar
da Santíssima Trindade, saiba o que diz. Discute-se, debate-se, mas ninguém é
capaz de contemplar essa visão, sem paz interior. Quisera meditassem os homens
sobre três coisas que tem dentro de si mesmos, as três bem diferentes da
Trindade. Indico-as, para que se exercitem, e assim experimentem e sintam quão
longe estão desse mistério. Aludo à existência, ao conhecimento e à vontade. De
fato existo, conheço e quero. Existo, sabendo e querendo; sei que existo e
quero; quero existir e conhecer. Repare, quem puder, como é inseparável a vida
nessas três faculdades: uma só vida, uma só inteligência, uma só essência. Como
são inseparáveis os objetos dessa distinção. Distinção, no entanto, que existe!
Cada um está diante de si mesmo. Estude-se, veja e responda-me. Contudo, mesmo
que reflita e me responda, não julgue ter compreendido a essência deste Ser
imutável que está acima de todas as criaturas, o Ser que imutavelmente existe,
imutavelmente sabe e imutavelmente quer. Será porventura graças a essas três
faculdades que há em Deus a Trindade, ou essa tríplice faculdade existe em cada
uma das três pessoas, de modo a serem três em cada uma? Ou ambas as coisas se
realizam de modo admirável, numa simplicidade múltipla, sendo a Trindade o seu
próprio fim infinito, pela qual existe, se conhece e se basta imutavelmente, na
grande abundância de sua Unidade? Quem poderia exprimir facilmente esse
conceito? Quem teria palavras para o exprimir? Quem, de algum modo, ousaria
pronunciar-se temerariamente a esse respeito?43
Esta última analogia fascinou Agostinho por toda a
sua vida, as trindades resultantes sendo: a) a mente (mens), seu conhecimento
de si mesma (notitia) e seu amor de si mesma (amor);44 b) a
memória (memoria), ou, mais propriamente, “o conhecimento latente que a mente tem de si
mesma”; o entendimento (intelligentia), isto é, “sua apreensão de si mesma
à luz das razões eternas”; e a vontade (voluntas), ou amor de si
mesma, “pela qual este processo de autoconhecimento é posto em atividade”;45 c) a
mente, enquanto lembrando, conhecendo e amando ao próprio Deus.46 “É,
contudo, a última das três analogias que Agostinho considera a mais
satisfatória”. Agostinho considera que somente quando a mente focalizou a si
mesma com todas as suas potências de lembrança, entendimento e amor em seu Deus
é que a Sua imagem que ela traz em si, corrompida como está pelo pecado, pode
ser plenamente restaurada.
Embora se demorando nestas analogias, Agostinho não
tem ilusões quanto às suas imensas limitações. Primeiro, “a imagem de Deus na
mente do homem é, de qualquer maneira, uma imagem remota e imperfeita”. Segundo,
“embora a natureza racional do homem exiba as trindades acima mencionadas,
(...) elas representam faculdades ou atributos que o ser humano possui,
enquanto que a natureza divina é perfeitamente simples”. Terceiro, a memória,
entendimento e vontade operam no homem separadamente, enquanto que as três
pessoas divinas “pertencem-se mutuamente e Sua ação é perfeitamente una e
indivisível”. Finalmente, em Deus os três membros da Trindade são pessoas, mas
o mesmo não ocorre na mente humana. Parafraseado o próprio Agostinho, a imagem
da Trindade se encontra numa pessoa, mas a suprema Trindade é ela própria três
pessoas: o que é um paradoxo, quando alguém reflete que, não obstante isso, os
três são mais inseparavelmente um do que a trindade da mente.47
O fundamento para seguir esta religião [cristã] é a
história e a profecia. Aí se descobre a disposição da divina Providência, no
tempo, em favor do gênero humano, para reforma-lo e restaura-lo, em vista da
posse da vida eterna. Crendo nisso, a mente vai se purificando num modo de vida
ajustado aos preceitos divinos. Isso a habilitará à percepção das realidades
espirituais. Essas realidades não são nem do passado, nem do futuro, mas são
sempre idênticas a si mesmas, imunes de qualquer mudança temporal. Trata-se do
mesmo e único Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Conhecida essa Trindade – o
quanto é possível na vida presente – sem dúvida alguma a mente percebe que toda
criatura intelectual, animal e corporal, recebe dessa mesma Trindade criadora:
o ser para ser o que é; a sua forma; e a direção
dentro da perfeita ordem universal. Não se entenda por
aí, porém, que apenas parcela das criaturas é feita pelo Pai, outra pelo Filho
e outra ainda pelo Espírito Santo. O certo é que todas e cada uma das naturezas
individuais recebe a criação do Pai pelo Filho, no dom do Espírito Santo. Visto
que todas as coisas, substância, essência, natureza ou qualquer termo mais adequado,
que se dê possui ao mesmo tempo estas três propriedades: é algo único, distingue-se por
sua forma das demais coisas, e está dentro da ordem universal. 48
Conclusão: louvor a Deus
Para encerrar, podemos resumir as contribuições de
Agostinho à doutrina trinitariana: (a) Na explicação da Trindade, ele concebe a
natureza divina, antes das pessoas, separadamente. Sua formula da Trindade é: uma
só natureza subsistindo em três pessoas. Ao contrário, a dos gregos era: três
pessoas tendo uma mesma natureza. Em Agostinho, a divindade única aparece logo.
A igualdade das pessoas divinas também aparece com mais brilho. (b) Outro
progresso da doutrina trinitariana de Agostinho é a insistência em fazer de
todas as operações ad extra a obra indistinta das três
pessoas, isto é, as operações exteriores são atribuídas ou apropriadas ao Pai,
Filho e Espírito Santo.49 (c)
Enfim, Agostinho lançou os fundamentos da teoria psicológica das processões,
concernentes à origem do Filho e à do Espírito Santo.
Agostinho, juntamente com os maiores teólogos que
lograram vislumbrar as dimensões do mistério trinitário, costumavam terminar
suas obras como orações ardorosas, de louvor e agradecimento, sempre
conscientes de suas limitações: “Ó minha fé, vai avante na tua confissão. Diz
ao Senhor teu Deus: santo, santo, santo é o Senhor meu Deus. Fomos batizados em
teu nome, Pai, Filho e Espírito Santo”.50 O
silêncio reverente da razão deixa o coração extravasar sua admiração. Deus está
envolto em mistério “na luz inacessível” (1Tm 6.13-16):
Portanto, quando chegarmos à tua presença, cessará
o muito que dissemos, mas muito nos ficará por dizer e tu permanecerás só, tudo
em todos (1Cor 15.28), e então eternamente cantaremos um só cântico,
louvando-te em um só movimento, em ti estreitamente unidos. Senhor, único Deus,
Deus Trindade, tudo o que disse de ti nestes livros, de ti vem. Reconheçam-no
os teus, e se algo há de meu, perdoa-me e perdoem-me os teus. AMÉM.51
Fonte: Revista Fé Para Hoje N.40 (Artigo 5).
1 - Cf.
especialmente Church Dogmatics, I/1 §8-12 (Peabody, MA: Hendrickson, 2010), p.
295-489, Esboço de uma dogmática (São Paulo: Fonte Editorial,
2006), p. 53-58 e Geoffrey W. Bromiley,Introduction to the Theology of Karl Barth (Edinburgh:
T&T Clark, 2001), p. 13-21.
2 - Para a
bibliografia, cf. J. Scott Horrell, “O Deus trino que se dá, aimago Dei e a natureza
da igreja local”, Vox Scripturae v. 6 – n. 2
(Dezembro 1996), p. 243-244. Cf. também J. Scott Horrell, “Uma cosmovisão
trinitariana”, Vox Scripturae v. 4 – n. 1 (Março de 1994), p. 55-77.
3 - “Carta 174”
dirigida ao bispo Aurélio de Cartago, em 416. in: Santo
Agostinho, A Trindade (São Paulo: Paulus, 1994), p. 19.
5 - J. N. D. Kelly, Patrística: origem
e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã (São Paulo:
Vida Nova, 2009), p. 205. Cf. A Trindade 1-4, p.
23-189.
8 - “Eis, a
piedade é sabedoria; e apartar-se do mal é ciência” (Jó 28.28). Esta oposição
corresponde às duas funções da razão: uma superior, pela qual a alma se dedica
à contemplação das realidades eternas; e outra inferior, pela qual a alma
aplica-se ao conhecimento das realidades temporais. A Trindade12.21b-23, p.
386-390.
9 - Cf.
J. N. D. Kelly, op. cit., p. 205-210. Cf. também Justo L. González, Uma história do
pensamento cristão. v. 1: do início até o Concílio de Calcedônia (São Paulo:
Cultura Cristã, 2004), p. 317-323.
10 - Como diz J.
N. D. Kelly, op. cit., p. 205: Ele “prefere ‘essência’ a ‘substância’, pois esta última
implica um sujeito com atributos, enquanto, para Agostinho, Deus é idêntico a
Seus atributos”: et haec trinitas unus est deus e trinitatem quae
deus est, cf. Santo Agostinho,A Cidade de Deus v. II [Livros
IX a XV] (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993), 11.10, p. 1011-1014.
Para uma explicação dos termos-chave da doutrina trinitariana (principalmente “substância =natureza = essência: uma única” e “hipóstase = subsistência =pessoa: três realmente
distintas”), cf. Leonardo Boff, A Trindade, a sociedade e a
libertação (Petrópolis, Vozes: 1986), p. 111-126.
11 - Henry
Chadwick, A Igreja Primitiva (Lisboa: Ulisseia, 1967), p. 257. Cf. especialmente Millard J. Erickson, Who’s Tampering with the Trinity? An Assessment of
the Subordination Debate (Grand
Rapids, MI: Kregel, 2009), p. 153-159. Este livro é uma crítica muito bem
elaborada contra a noção da subordinação eterna do Filho ao Pai, que tem sido
revivida em certos setores da igreja evangélica norte-americana.
20 - A teologia
cristã tem distinguido entre Trindade imanentee Trindade econômica. Trindade
imanente é a Trindade considerada em si mesma, em sua eternidade e comunhão
pericorética entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Trindade econômica é a
Trindade enquanto se auto-revelou na história da humanidade e age em vista à
nossa participação na comunhão trinitária. Cf. Karl Rarhner, “O Deus
Trino, fundamento transcendente da história da salvação”, in: Johannes Feiner
& Magnus Loehrer, Mysterium Salutis; compêndio de dogmática
histórico-salvífica – a histórica salvífica antes de Cristo II/1
(Petrópolis: Vozes, 1972), p. 292-294, 342-344.
23 - Como diz
João Calvino, Agostinho “em razão da pobreza da linguagem humana em matéria de
tão alto importe, esta palavrahipóstase havia sido forçada
pela necessidade, não para que se expressasse o que é, mas apenas para que não se
passasse em silêncio o fato de que são três o Pai, o Filho e o Espírito”.
Cf. As Institutas da Religião Cristã I.13.5, 18 (São Paulo: Cultura
Cristã, 2006), p. 126, 146-147. Calvino parece se distanciar das analogias
psicológicas, apesar de praticamente repetir a abordagem de Agostinho a
respeito da Trindade.
25 - Cf. J. N.
D. Kelly, op. cit. p. 12-13. Para Aristóteles, haviam dez categorias: substância (ousia – no sentido
de uma coisa), quantidade ou dimensão (quantitas), qualidade (qualitas), relação com
alguma coisa (relatio ad aliquid), local (locus), tempo (tempus), posição ou
situação (situs), habito ou exterior (habitus), ação (actio), paixão ou ação
sofrida (passio). Aristóteles acreditava que essas categorias representavam não apenas
as maneiras de a mente pensar no mundo externo, mas também os modos em que as
coisas existem objetivamente nesse mundo.
27 - A Trindade 5-7, p. 191-258;
Cf. também Santo Agostinho,Comentário aos Salmos 68 1.5 [Enarrationes in
psalmos] Salmos 51-100 (São Paulo: Paulus, 1997), p. 435-437. Segundo J. N. D.
Kelly,op. cit., p. 207: “Para as pessoas da atualidade, menos versadas em filosofia
técnica, soa estranho a noção de que as relações (e.g. ‘acima’, ‘à direita de’,
‘maior’) possuem uma subsistência real, embora possam em geral concordar com
sua objetividade, isto é, que tais relações existem por si mesmas, independente
do observador. Para Agostinho, essa era uma idéia mais familiar, pois tanto
Plotino quanto Porfírio haviam-na ensinado. Para ele, a vantagem era que, ao
permitir que falasse significativamente sobre Deus num novo nível de linguagem,
ela fazia com que fosse possível afirmar ao mesmo tempo a unidade e a
pluralidade da Divindade, sem cair num paradoxo”.
29 - A Trindade 15.27-37, p.
521-534. Em 7.6, p. 244, o Espírito Santo é referido como “suma caridade, laço
que une um ao outro [o Pai ao Filho], e nos submete a eles” (summa charitas,
utrumque coniungens, nosque subiungens).
31 - Para o
papel de Agostinho na controvérsia filioque, cf. Alister E.
McGrath, Teologia sistemática, histórica e filosófica (São Paulo:
Shedd, 2005), p. 395-398.
33 - O que a
teologia oriental (ortodoxa) nem sempre considerou é que os latinos, inclusive
Agostinho, sempre conceberam o Pai como a fonte (Fons Trinitatis) ou origem
especial (origo principalis) na Trindade. O Espírito Santo, como afirma
Agostinho, procede do Paiprincipaliter; procede do Pai e do Filho communiter, por causa do dom
que o Pai dá ao Filho. A maioria dos ortodoxos poderia aceitar tal formulação,
mas, até que um concílio ecumênico agisse, tal idéia continuaria sendo mero
“ensino teológico” (theologoumena). Cf. A Trindade 15.50, p. 553-555.
36 - Henry
Chadwick, op. cit., p. 257. Cf. Millard Erickson, Introdução à
teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2012), p. 138:
“A maior contribuição de Agostinho para a compreensão da Trindade são suas
analogias extraídas do campo da personalidade humana. Ele argumentou que, se a
humanidade é feita à imagem de Deus, que é triúno, é razoável esperar
encontrar, numa análise da natureza humana, um reflexo, mesmo que tênue, da
triunidade de Deus.”
41 - Santo
Agostinho, Comentário aos Salmos 42.6 [Enarrationes in
psalmos]; Salmos 1-50 (São Paulo: Paulus, 1997), p. 718-719.
42 - A Trindade 8.12-9.2, p.
260-289 e A Cidade de Deus v. II, 11.26. É interessante notar que na
concepção barthiana-anselmiana a fé éamans, o entendimento da
fé é id quod amatur e a teologia é amor. Cf. Karl
Barth, Fé em busca de compreensão (São Paulo: Fonte
Editorial, 2006), p. 14. Cf. também Anselmo de Cantuária, Monol. 67 e passim.
49 - As
ações ad extra são as que a Trindade opera para fora do círculo trinitário, como
a criação do universo, a revelação, a salvação. As ações ad intra são as ações
intratrinitárias, dentro do círculo trinitário, como a geração do Filho e a
espiração do Espírito Santo pelo Pai e o Filho.