O homem de
Deus e o amor
— O senhor me ofende ao ler este livro na
minha presença!
— Desculpe, mas como poderia eu lhe o
fender, por ler a Bíblia Sagrada.
— Este livro contém muitas histórias com
feitos misteriosos e sobre naturais, que levam pessoas desesperadas a acreditar
em coisas irreais e fantasiosas.
— O
senhor conhece as mensagens bíblicas?
— Sim, sou teólogo, e por muitos anos
preguei e acreditei em seus ensinamentos, hoje compreendo, que tudo que ela
contém são fabulas.
— Quer dizer que perdeu a fé? Não me diga
que virou ateu?
— Não existem ateus, existem homens que são
iludidos, e passam a vida num proposito descabido da realidade e homens que não
estão nem aí, ignoram a realidade.
— E o que é a realidade para o senhor?
— Um mundo injusto e cruel.
— É um pensamento amargurado e triste, quer
saber, o senhor deve ter lá os seus motivos para pensar desta maneira, não sou
pessoa que gosta de provocar atrito ou discussões, vou guardar a bíblia. Só me
responda uma pergunta.
— O que o senhor quer saber?
— Deus lhe ofendeu de alguma maneira?
Lágrimas começaram a rolar pela face do
homem, nitidamente emocionado, passados alguns segundos, ele olha fixamente nos
olhos do outro homem e responde.
— Vou responder a sua pergunta? Porém,
primeiro responda a minha. Pode o amor ferir e causar dor?
O homem de Deus, fica pensativo e tremulo
com quem recebe um choque, com aquela pergunta. Seus pensamentos, se tornam
embaraçados, e surge na sua mente, muitos questionamentos. Quem é este homem que ousa a indagar a
benevolência do amor? Como responder aquela pergunta de forma direita e centrada
na palavra de Deus? Impotente diante da pergunta, o homem de Deus, responde que
tal questionamento é complexo, e que não dispõe de uma resposta simplificada.
— Então, vou reformulara a pergunta. O que
o senhor entende sobre, o que é o amor?
O homem de Deus, começa a suar, não entende
o que está acontecendo, porque ele se sentia incomodado daquela maneira, ela já
havia pregado centenas de vezes sobre o tema, na sua carreira de pregador havia
formulados diversos sermões com respaldo bíblicos sobre o amor e seus
desígnios. Sem saber o que responder. O silêncio predominou por alguns minutos.
— Até a alguns mementos atrás eu tinha firme
convicção a respeito sobre o amor, o senhor colocou algumas dúvidas na minha
mente, agora neste momento não saberia como responder adequadamente a sua
pergunta.
— O senhor não sabe a resposta, ou tem medo
de expressar o que realmente pensa a respeito?
— Vamos esclarecer uma coisa, estamos
falando de amor ou de Deus?
— E existe diferença entre eles para o
senhor?
— Pare de fazer questionamento, e por uma só
vez, responda a minha pergunta.
— Tudo bem! O que o senhor que saber?
— Por que o senhor tem aversão a bíblia?
— Não tenho aversão aos escritos bíblicos,
não gosto e desprezo como as mensagens nela contida são interpretadas pelo
homem, e como elas são usadas. Falando nisto, o senhor me deve uma resposta
adequada, a minha pergunta, sobre o amor.
— Já respondi, que no momento não sei a
resposta.
— Fico estarrecido, como um Ministro de Deus,
não sabe responder uma simples pergunta sobre o amor. Então, o que move a sua
determinação em pregar o evangelho?
— O
senhor, está levantando dúvida sobre minha fé e meu ministério?
—
Longe disto, apenas, espero que me responda com sinceridade a minha pergunta.
— O senhor é insistente, já lhe disse, que
no momento não tenho uma resposta.
— E quando vai ter?
— O senhor como um bom mestre da palavra de
Deus, conhece certamente a resposta. Por qual razão me pergunta?
— Como
eu acabei de lhe explicar, estou fora dessa coisa de religião. No entanto, o
senhor, como ministro da palavra de Deus, tem o dever de saber a resposta.
O homem estava visivelmente constrangido,
sua expressão demostrava pavor e temor, ele não compreendia, porque não conseguia
responder à pergunta daquele homem.
— Ninguém neste mundo tem resposta definitiva
e absoluta para nada, por que pouco conhecemos sobre a verdade de todas as
coisas.
— O senhor está admitindo, que é um
ignorante nas coisas deste mundo ou das coisas espirituais?
— Por favor, não ponha palavras na minha
boca, o que eu quero dizer é que não é dado ao homem natural o conhecemos de muitas
coisas, como o senhor sabe, por ser um estudioso da palavra, tem coisas que são
mistérios e de conhecimento apenas de Deus.
— Quer dizer que apenas Deus, sabe o
significado do amor? Então, o senhor prega o que não conhece?
— O senhor já passou dos limites, está sendo
inconveniente.
— Desculpe, não quis ser indelicado, só
estou tentado entender o senhor?
— Por acaso o senhor está me julgando?
— Pelo contrário, admiro sua integridade,
não se sinta pressionado, estimo sua honestidade quanto ao desconhecimento do
que é o amor.
— Por que o senhor tem tanto interesse em saber
o penso sobre o amor? O que o amor tem a
ver com o senhor deixar de pregar a palavra de Deus?
— Bom, parece que ambos temos muitas
perguntas, sem resposta.
— O senhor, não respondeu a minha
pergunta.
— Infelizmente devo me ausentar agora, está
próximo a minha parrada, foi um prazer falar com o senhor, quem sabe em outra
oportunidade possamos continuar esta nossa conversa.
— O senhor vai se retirar sem responder a minha
pergunta?
— O senhor tem as respostas as quais
necessita, eu tenho as dúvidas que me edificam.
Levantou-se, e com um aceno disse adeus. O
homem de Deus não se conformou com a resposta e com a saída estratégia daquele desconhecido,
levantou e foi atrás dele, como não o encontrou no vagão, perguntou ao fiscal de
passageiros, o senhor sabe de dizer onde posso encontrar a pessoa que estava
sentada ao lado do meu acento. O fiscal, olha para o homem de Deus, e com um ar
meio que apreensivo.
— O senhor vai me desculpar, mas não havia ninguém
sentado na poltrona ao lado da sua, durante toda a viagem ela ficou vazia.
O homem volta para sua poltrona, senta-se e
fica a pensar. — Estarei ficando louco? Eleva as mãos ao rosto, um breve
intervalo de reflexão acontece. Demorou até ele perceber que esteve o tempo
todo dialogando com sigo mesmo. O pior daquela situação não era o devaneio de projetar
a própria consciência em formato humano, o que a faríngea era os pensamentos de
dúvidas sobre o que realmente o amor significava para ele.