O evangelho falso dos dias atuais
Infelizmente, este não é o melhor momento da Igreja. Vivemos em uma era em que imperam a teologia fraca e uma conduta cristã descuidada. Nosso conhecimento é insuficiente, nossa adoração é irreverente e nossas vidas são imorais. Até mesmo a igreja evangélica sucumbiu ao espírito desta era. O Evangelho da Graça, livro que serve como prólogo ao presente volume, argumenta que o Movimento Evangélico perdeu a noção do Evangelho.
Talvez a maneira mais simples de dizer isso é que o Evangelicalismo se tornou mundano.
Isso pode ser demonstrado comparando-o ao liberalismo do passado. O que antes se dizia das igrejas liberais agora deve ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, acreditam na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia é incapaz de satisfazer às exigências da vida nestes tempos pós-modernos.
A Palavra de Deus é insuficiente por si só para ganhar pessoas para Cristo, promover o crescimento espiritual, proporcionar orientação prática ou transformar a sociedade. Assim, as igrejas suplementam o simples ensino das Escrituras com entretenimento, terapia de grupo, ativismo político, sinais e maravilhas — qualquer coisa que prometa atrair consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, o pecado é apenas uma disfunção e a salvação significa ter uma melhor autoestima.
Quando essa teologia invade a Igreja, substitui doutrinas duras, como a reparação da ira de Deus, mas que são essenciais, colocando em seu lugar técnicas práticas para o autodesenvolvimento. O interesse do mundo é a felicidade pessoal, por isso o Evangelho é apresentado como um plano para a realização individual, não como um caminho de discipulado árduo. Os métodos do mundo para alcançar esses objetivos egocêntricos são necessariamente pragmáticos, razão pela qual as igrejas evangélicas estão dispostas a tentar qualquer coisa que pareça funcionar. Esse mundanismo tem produzido o “novo pragmatismo” do Evangelicalismo.
Outra maneira de explicar o que está errado com a igreja evangélica é identificar as principais ideias do pensamento contemporâneo e, então, analisar se elas penetraram na Igreja de algum modo.
O Evangelho da Graça identifica seis grandes tendências culturais: secularismo, humanismo, relativismo, materialismo, pragmatismo e anti-intelectualismo ou “insensatez”. O secularismo é a visão de que o universo é tudo o que existe; Deus e a eternidade são excluídos Nas palavras dos antigos filósofos pagãos, o humanismo é a crença de que “o homem é a medida de todas as coisas”, o que leva inevitavelmente à adoração de si mesmo.
O relativismo ensina que, por não haver Deus, não há absolutos: a verdade é relativa.
O materialismo está relacionado intimamente ao secularismo: se nada existe além do “aqui e agora”, o sentido da vida só pode ser encontrado nos bens pessoais.
O pragmatismo mede a verdade por sua utilidade prática — o que é certo e verdadeiro é o que funciona.
A insensatez é o total “emburrecimento” da cultura popular, o encolhimento da mente, cuja aceleração teve uma grande participação da televisão. A maioria das pessoas tem dificuldade para se concentrar por longos períodos, especialmente quando se trata de discutir qualquer coisa de valor ou importância. Uma canção de um conhecido artista diz: “Não estou ciente de muitíssimas coisas.” Essas são algumas das tendências que prevalecem na cultura ocidental no alvorecer do novo milênio. Se a Igreja se tornou mundana, espera-se encontrar essas mesmas atitudes em igrejas evangélicas. E, claro, isso é exatamente o que acontece. Por mais surpreendente que isso possa parecer, o Movimento Evangélico se tornou cada vez mais secular. Em um esforço para fazer os recém-chegados se sentirem confortáveis , os pastores ensinam o mínimo possível de teologia. A adoração se tornou uma forma de entretenimento popular, em vez de um louvor transcendente. Novos prédios de igrejas são projetados para se parecerem mais com prédios de escritórios do que com casas de culto.
Todas essas tendências contribuem para a secularização daquilo que um dia foi sagrado. Ao mesmo tempo, as igrejas evangélicas tornaram-se muito mais humanistas. Isso é inevitável: quanto menos falamos sobre Deus, mais falamos de nós mesmos. O conteúdo dos sermões é determinado mais pelo público-alvo do que pelas Sagradas Escrituras. Isso leva rapidamente ao relativismo no pensamento e na conduta. As convicções morais já não são mais determinadas pelo argumento cuidadoso com base em verdades bíblicas absolutas — elas são escolhas inconscientes fundamentadas em sentimentos pessoais.
A Igreja também é materialista. A postura evangélica em relação ao dinheiro é captada pelo título de um livro recentemente editado por Larry Eskridge e Mark Noll: More Money, More Ministry [Mais dinheiro, mais ministério].
Quando a prosperidade financeira se torna uma prioridade importante, as igrejas se veem forçadas a descobrir o que funciona. Essa busca tanto deriva do pragmatismo mencionado anteriormente quanto é responsável por produzi-lo. A maioria dos pastores quer que suas igrejas sejam maiores e melhores, e mesmo que não sejam melhores, seria melhor se fossem maiores! Não surpreende que os seus membros também queiram ser mais saudáveis e mais ricos. Por trás de todas essas atitudes mundanas se esconde uma insensatez onipresente, uma indisposição para pensar de forma mais séria acerca de qualquer coisa, mas especialmente a respeito da doutrina cristã. O Evangelicalismo se tornou uma religião de sentir, não de pensar. Então, quando perguntamos “O que aconteceu ao Evangelho da graça?”, a resposta acaba sendo esta: muitas igrejas evangélicas trocaram a devoção a Deus pela devoção ao mundo. Isso acontece de maneiras incontáveis, mas a Declaração de Cambridge inclui um resumo útil: “À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é a perda dos valores absolutos, o individualismo permissivo e a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua Cruz deixaram de estar no centro de nossa visão.”
O que aconteceu à graça do Evangelho? Ela desapareceu do estudo da Igreja quando o ministro decidiu dar ao seu povo o que ele queria em vez do que ele necessitava. Ela se perdeu na livraria cristã, em algum lugar entre a seção de autoajuda e o corredor cheio de mercadorias “de Jesus”. E se perdeu em nossas mentes e em nossos corações quando decidimos aceitar a teologia da realização humana propagada pelo mundo, reservando espaço para a nossa própria contribuição pessoal à salvação.
O Evangelho da graça foi substituído por uma mensagem parcialmente bíblica, mas egocêntrica em última análise. Como tudo o mais na criação, a alma humana tem horror ao vácuo. Quando algo essencial desaparece de nossa teologia e espiritualidade, outra coisa vem correndo substituí-lo. Quando o próprio Deus desaparece, o que o substitui é o eu. Para citar novamente a Declaração de Cambridge: “A confiança injustificável na capacidade humana é um produto da natureza humana caída. Essa confiança falsa enche o mundo evangélico hoje — desde o evangelho da autoestima até o evangelho da saúde e da riqueza, desde aqueles que transformaram o Evangelho em um produto a ser vendido e os pecadores em consumidores que querem comprar, até outros que tratam a fé cristã como sendo verdadeira simplesmente porque funciona.” É possível observar essa confiança equivocada na capacidade humana através do testemunho cristão, no qual um Evangelho egocêntrico produz uma evangelização egoísta. Quando os evangélicos pensam em evangelização, em vez de pensarem em primeiro lugar na mensagem do Evangelho, tendem a pensar em uma resposta específica a essa mensagem.
Isso talvez explique por que os testemunhos de fé salvadora tendem a enfatizar a experiência pessoal, em vez de darem destaque à pessoa e obra de Jesus Cristo. Todavia, como J. I. Packer advertiu em seu livro Evangelização e a Soberania de Deus, há um perigo inerente ao se definir evangelização “em termos de um efeito obtido na vida de outras pessoas; isso equivale a dizer que a essência de evangelizar é produzir convertidos”.
Tal abordagem transforma inevitavelmente o evangelismo em outra forma de pragmatismo. Todavia, a essência da evangelização não reside em resultados, mas na própria mensagem — a boa notícia da salvação na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Isso não quer dizer que a mensagem do Evangelho não exige uma resposta. É claro que ela exige. Mas essa resposta não é a obra do evangelista; ela é a obra de Deus, e isso é entendido mais claramente quando a apresentação do Evangelho é fundamentada nas doutrinas da graça.
“As Doutrinas da Graça: Resgatandoo verdadeiro Evangelho”, James Montgomery Boice e Philip Graham Ryken.
Editora Anno Domini.
Infelizmente, este não é o melhor momento da Igreja. Vivemos em uma era em que imperam a teologia fraca e uma conduta cristã descuidada. Nosso conhecimento é insuficiente, nossa adoração é irreverente e nossas vidas são imorais. Até mesmo a igreja evangélica sucumbiu ao espírito desta era. O Evangelho da Graça, livro que serve como prólogo ao presente volume, argumenta que o Movimento Evangélico perdeu a noção do Evangelho.
Talvez a maneira mais simples de dizer isso é que o Evangelicalismo se tornou mundano.
Isso pode ser demonstrado comparando-o ao liberalismo do passado. O que antes se dizia das igrejas liberais agora deve ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, acreditam na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia é incapaz de satisfazer às exigências da vida nestes tempos pós-modernos.
A Palavra de Deus é insuficiente por si só para ganhar pessoas para Cristo, promover o crescimento espiritual, proporcionar orientação prática ou transformar a sociedade. Assim, as igrejas suplementam o simples ensino das Escrituras com entretenimento, terapia de grupo, ativismo político, sinais e maravilhas — qualquer coisa que prometa atrair consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, o pecado é apenas uma disfunção e a salvação significa ter uma melhor autoestima.
Quando essa teologia invade a Igreja, substitui doutrinas duras, como a reparação da ira de Deus, mas que são essenciais, colocando em seu lugar técnicas práticas para o autodesenvolvimento. O interesse do mundo é a felicidade pessoal, por isso o Evangelho é apresentado como um plano para a realização individual, não como um caminho de discipulado árduo. Os métodos do mundo para alcançar esses objetivos egocêntricos são necessariamente pragmáticos, razão pela qual as igrejas evangélicas estão dispostas a tentar qualquer coisa que pareça funcionar. Esse mundanismo tem produzido o “novo pragmatismo” do Evangelicalismo.
Outra maneira de explicar o que está errado com a igreja evangélica é identificar as principais ideias do pensamento contemporâneo e, então, analisar se elas penetraram na Igreja de algum modo.
O Evangelho da Graça identifica seis grandes tendências culturais: secularismo, humanismo, relativismo, materialismo, pragmatismo e anti-intelectualismo ou “insensatez”. O secularismo é a visão de que o universo é tudo o que existe; Deus e a eternidade são excluídos Nas palavras dos antigos filósofos pagãos, o humanismo é a crença de que “o homem é a medida de todas as coisas”, o que leva inevitavelmente à adoração de si mesmo.
O relativismo ensina que, por não haver Deus, não há absolutos: a verdade é relativa.
O materialismo está relacionado intimamente ao secularismo: se nada existe além do “aqui e agora”, o sentido da vida só pode ser encontrado nos bens pessoais.
O pragmatismo mede a verdade por sua utilidade prática — o que é certo e verdadeiro é o que funciona.
A insensatez é o total “emburrecimento” da cultura popular, o encolhimento da mente, cuja aceleração teve uma grande participação da televisão. A maioria das pessoas tem dificuldade para se concentrar por longos períodos, especialmente quando se trata de discutir qualquer coisa de valor ou importância. Uma canção de um conhecido artista diz: “Não estou ciente de muitíssimas coisas.” Essas são algumas das tendências que prevalecem na cultura ocidental no alvorecer do novo milênio. Se a Igreja se tornou mundana, espera-se encontrar essas mesmas atitudes em igrejas evangélicas. E, claro, isso é exatamente o que acontece. Por mais surpreendente que isso possa parecer, o Movimento Evangélico se tornou cada vez mais secular. Em um esforço para fazer os recém-chegados se sentirem confortáveis , os pastores ensinam o mínimo possível de teologia. A adoração se tornou uma forma de entretenimento popular, em vez de um louvor transcendente. Novos prédios de igrejas são projetados para se parecerem mais com prédios de escritórios do que com casas de culto.
Todas essas tendências contribuem para a secularização daquilo que um dia foi sagrado. Ao mesmo tempo, as igrejas evangélicas tornaram-se muito mais humanistas. Isso é inevitável: quanto menos falamos sobre Deus, mais falamos de nós mesmos. O conteúdo dos sermões é determinado mais pelo público-alvo do que pelas Sagradas Escrituras. Isso leva rapidamente ao relativismo no pensamento e na conduta. As convicções morais já não são mais determinadas pelo argumento cuidadoso com base em verdades bíblicas absolutas — elas são escolhas inconscientes fundamentadas em sentimentos pessoais.
A Igreja também é materialista. A postura evangélica em relação ao dinheiro é captada pelo título de um livro recentemente editado por Larry Eskridge e Mark Noll: More Money, More Ministry [Mais dinheiro, mais ministério].
Quando a prosperidade financeira se torna uma prioridade importante, as igrejas se veem forçadas a descobrir o que funciona. Essa busca tanto deriva do pragmatismo mencionado anteriormente quanto é responsável por produzi-lo. A maioria dos pastores quer que suas igrejas sejam maiores e melhores, e mesmo que não sejam melhores, seria melhor se fossem maiores! Não surpreende que os seus membros também queiram ser mais saudáveis e mais ricos. Por trás de todas essas atitudes mundanas se esconde uma insensatez onipresente, uma indisposição para pensar de forma mais séria acerca de qualquer coisa, mas especialmente a respeito da doutrina cristã. O Evangelicalismo se tornou uma religião de sentir, não de pensar. Então, quando perguntamos “O que aconteceu ao Evangelho da graça?”, a resposta acaba sendo esta: muitas igrejas evangélicas trocaram a devoção a Deus pela devoção ao mundo. Isso acontece de maneiras incontáveis, mas a Declaração de Cambridge inclui um resumo útil: “À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é a perda dos valores absolutos, o individualismo permissivo e a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua Cruz deixaram de estar no centro de nossa visão.”
O que aconteceu à graça do Evangelho? Ela desapareceu do estudo da Igreja quando o ministro decidiu dar ao seu povo o que ele queria em vez do que ele necessitava. Ela se perdeu na livraria cristã, em algum lugar entre a seção de autoajuda e o corredor cheio de mercadorias “de Jesus”. E se perdeu em nossas mentes e em nossos corações quando decidimos aceitar a teologia da realização humana propagada pelo mundo, reservando espaço para a nossa própria contribuição pessoal à salvação.
O Evangelho da graça foi substituído por uma mensagem parcialmente bíblica, mas egocêntrica em última análise. Como tudo o mais na criação, a alma humana tem horror ao vácuo. Quando algo essencial desaparece de nossa teologia e espiritualidade, outra coisa vem correndo substituí-lo. Quando o próprio Deus desaparece, o que o substitui é o eu. Para citar novamente a Declaração de Cambridge: “A confiança injustificável na capacidade humana é um produto da natureza humana caída. Essa confiança falsa enche o mundo evangélico hoje — desde o evangelho da autoestima até o evangelho da saúde e da riqueza, desde aqueles que transformaram o Evangelho em um produto a ser vendido e os pecadores em consumidores que querem comprar, até outros que tratam a fé cristã como sendo verdadeira simplesmente porque funciona.” É possível observar essa confiança equivocada na capacidade humana através do testemunho cristão, no qual um Evangelho egocêntrico produz uma evangelização egoísta. Quando os evangélicos pensam em evangelização, em vez de pensarem em primeiro lugar na mensagem do Evangelho, tendem a pensar em uma resposta específica a essa mensagem.
Isso talvez explique por que os testemunhos de fé salvadora tendem a enfatizar a experiência pessoal, em vez de darem destaque à pessoa e obra de Jesus Cristo. Todavia, como J. I. Packer advertiu em seu livro Evangelização e a Soberania de Deus, há um perigo inerente ao se definir evangelização “em termos de um efeito obtido na vida de outras pessoas; isso equivale a dizer que a essência de evangelizar é produzir convertidos”.
Tal abordagem transforma inevitavelmente o evangelismo em outra forma de pragmatismo. Todavia, a essência da evangelização não reside em resultados, mas na própria mensagem — a boa notícia da salvação na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Isso não quer dizer que a mensagem do Evangelho não exige uma resposta. É claro que ela exige. Mas essa resposta não é a obra do evangelista; ela é a obra de Deus, e isso é entendido mais claramente quando a apresentação do Evangelho é fundamentada nas doutrinas da graça.
“As Doutrinas da Graça: Resgatandoo verdadeiro Evangelho”, James Montgomery Boice e Philip Graham Ryken.
Editora Anno Domini.